Por Rodrigo Piquet Saboia de Mello*
Desde o início dos meus estudos no campo da Biblioteconomia, sempre tive muito interesse pelas marcas de proveniência dos livros e, em especial, a narrativa que as coleções bibliográficas nos trazem. Como bem também sabemos, estudos desta natureza são relativamente recentes no Brasil e, em especial, acerca dos ex-líbris.
As coleções em geral refletem a narrativa de seu dono, seja física ou institucional. Em meu percurso intelecto-profissional, venho fazendo um diálogo entre o trabalho indigenista na Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e os afazeres informacionais na Biblioteca Marechal Rondon do Museu do Índio. O que me chamava muita a atenção era a não existência de um ex-líbris próprio da coleção especializada na temática indígena.
Assim sendo, no percorrer das sendas indigenistas, tive o encontro com a Caçadora de Ex-líbris, Mary Komatsu. Nossa aproximação se deu enquanto integrantes da Rede de Bibliotecas e Centros de Informação em Arte (REDARTE/RJ). Em algum momento (que me foge a memória) relatei o desejo de ter um ex-líbris. Desta maneira, ela me apresentou ao artista André De Miranda, na qual comecei a travar uma conversa remotamente.
Por questões particulares, e também pelo ataque epidêmico planetário da COVID-19, travamos conversas por um longo tempo acerca da confecção do que seria a busca do meu ex-líbris de origem indigenista. De ricochete, André teve a iniciativa de me enviar, como ele próprio intitula, um “pequeno questionário para confecção de Ex libris”. Esta é uma interessante opção que o artista oferece ao pretendente proprietário de um ex-líbris para compreender melhor a trajetória e gostos do postulante.
Evidentemente que porto uma forte admiração e contato pelas culturas indígenas. Em especial, sempre me chamou a atenção, e de antropólogos do quilate de Darcy Ribeiro, a plumária do povo indígena Urubu-Kaapor. Minha relação também é sentimental visto que meu rito de passagem como indigenista da FUNAI ocorreu na região da Terra Indígena Alto Rio Guamá onde transitam tanto os Tembé quanto os próprios Urubu-Kaapor. Assim sendo, ofereci ao artista algumas imagens de plumárias para que ele pudesse elaborar um estudo do futuro ex-líbris.
Por fim, para não muito me alongar, vejamos o resultado da arte final: trata-se de um ex-líbris em xilogravura, ilustrado por um colar emplumado que remete a um coração e os laços como cobras se cruzando. Este bibliotecário ficou muito feliz com o resultado final.
*Rodrigo Piquet Saboia de Mello
Bibliotecário com doutorado em Ciência da Informação pelo IBICT/UFRJ. Indigenista Especializado da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
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