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Ex-líbris e a Voz Pioneira de Xavieria Ribeiro em 1912

  • exlibrisbrasil2020
  • há 3 dias
  • 2 min de leitura

Por Mary Komatsu*


O 1º Concurso de Ex-líbris promovido pela Gazeta de Notícias no Rio de Janeiro foi realizado em 1º de julho de 1912. Apesar de não ter contado com grande adesão popular, pode ser considerado uma iniciativa pioneira no incentivo à produção e valorização dos ex-líbris no Brasil, especialmente se levarmos em conta que a chamada 1ª Exposição Brasileira de Ex-líbris só aconteceria três décadas depois, em 1942.


Foram recebidos 24 trabalhos, com Germano Neves consagrado em 1º lugar e, em 2º lugar, um empate entre Xavieria Ribeiro e Archimedes José da Silva.


Xavieria Ribeiro
Xavieria Ribeiro

Mas o mais marcante foi o comentário publicado pela própria Gazeta de Notícias em 14 de julho de 1912 sobre o ex-líbris de Xavieria:

“O fundo preto, o desenho anguloso da figura, a forma irregular do Ex-libris denotam uma originalidade rara e uma educação philosophica ou um temperamento satyrico de primeira ordem que não é commum encontrar-se em uma mulher, mormente em uma senhorita de pouca idade.”


Ex-líbris de Xavieria Ribeiro - Medalha de prata
Ex-líbris de Xavieria Ribeiro - Medalha de prata

A análise da crítica revela um misto de admiração e surpresa diante da força expressiva do trabalho de uma jovem mulher — como se a criatividade ousada, a filosofia e o humor refinado não fossem atributos esperados no universo feminino. Essa observação, ainda que elogiosa, carrega o peso de uma sociedade que colocava as mulheres à margem das produções artísticas intelectuais, especialmente em campos como o ex-librismo, tradicionalmente dominado por homens colecionadores, bibliófilos e gravadores.


Xavieria Ribeiro não apenas rompeu com esses estereótipos, mas também fincou seu nome na história como uma das primeiras mulheres a se destacar nesse universo no Brasil. Ainda assim, apesar do reconhecimento, ela não levou o prêmio principal e teve que dividir o segundo lugar — um detalhe que, para os olhos contemporâneos, convida à reflexão.


Sua participação nos lembra que o ex-librismo, assim como outras expressões da cultura gráfica e do colecionismo, também carrega histórias silenciadas ou minimizadas das mulheres que ousaram criar, colecionar e deixar sua marca. Resgatar esses nomes, como o de Xavieria, é um passo importante para ampliar a compreensão do ex-líbris como um campo de expressão também feminino — feito de vozes que resistiram, muitas vezes à sombra, e que agora merecem ser celebradas à luz.

 

Referência

GREENHALGH, Raphael Diego. “Ex-líbris em notícias: socialização nos jornais e revistas brasileiros dos séculos XIX e XX”. Revista VIS: Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Brasília, ano 23, n. 1, p. 84–97, 2024.



*Mary Komatsu - Bibliotecária e administradora do canal Caçadora de Ex-líbris.

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